quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Na imensidade Augusto dos Anjos


       


Alma humana, alma humana, tu que dormes

Entre os grandes colossos desconformes

Da carne, essa voraz liberticida,

Desse teu escafandro de albuminas,

Em tua mesquinhez não imaginas

A intensidade esplêndida da Vida!


Inda não vês e eu vejo panoramas

De luz em gigantescos amalgamas

De sóis, nas regiões imensuráveis,

Auscultando os espaços mais profundos

Na sinfonia harmônica dos mundos,

Singrando a luz de céus incomparáveis.


Do teu laboratório de arterites,

De gangliomas, úlceras, nevrites

Ao lado de humaníssimas vaidades,

Não podes perceber as ressonâncias,

Quinta-essências de todas as substâncias

Na fluidez das eletricidades.


Aqui não há vertigens de nevróticos,

Nem bisonhos aspectos de cloróticos

Nas estradas de eternos otimismos!

A vida imensa é coro de grandezas,

Submersão nas fluídicas belezas,

Envergando os etéreos organismos.


Ante a minhalma fulgem ideogramas,

Pensamentos radiosos como chamas,

Combinações no mundo das imagens;

São vibrações das almas evolvidas

E que, concretizadas e reunidas,

Formam luminosíssimas paisagens...


Em pleno espaço – Imensidade de ânsias,

Sem aritmologias das distâncias,

Sem limites, sem número, sem fim.

Deus e Pai, ó Artista Inimitável,

Deixai meu ser esdrúxulo, execrável,

No prolongado e edênico festim!



Livro: Parnaso de além túmulo 

Psicografia de Francisco Cândido Xavier



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